domingo, junho 26, 2005

O espetáculo da vida

Ultimamente ando bem desanimada, e quem visita meu blog, e não me conhece pessoalmente, pode até pensar que sou uma pessoinha mau humorada. Mas quem conhece sabe, que não costumo tirar o sorriso do rosto, como aconteceu estes dias, fui ver o resultado dos meus exames e vou ter mesmo que fazer cirurgia pra fazer biópsia, e como ficarei sem algumas glândulas, terei que tomar remédio pra sempre. Tudo bem, um comprimido por dia só, mas quando entrei no consultório para falar com meu médico, e ele contando aquelas coisas de médico, que o que pode acontecer é isso, e isso, se aquilo complicar, eu comecei a rir pensando onde isso vai parar. Não um sorriso nervoso, somente sorrindo mesmo. Daí ele falou que era pra eu ir com este sorriso pra mesa de cirurgia porque assim afasto a dor e o medo. Gostei disso. Só que percebi que é mais fácil colocar um belo sorriso no rosto do que nas palavras, quando escrevo muita coisa vem à tona. Igual hoje, ri o dia todo, mas na hora de escrever, quanta coisa aparece, quanta coisa me deixa triste hoje, só que a vida realmente surpreende. Vim, postar, mandar um e-mail para o namorado e pegar Morte e Vida Severina, pois ia copiar para as minhas alunas ( Todo mundo conhece, né? João Cabral de Mello Neto?), e me toquei que no final a vida sempre guarda uma surpresinha, um presentinho pra nós. Vai o trecho da poesia que salvou meu dia. Além dos comentários de um amigo querido que sempre posta por aqui, e tecer com meus primos cheios de carinho no msn.

"Severino, retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.

E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida
como a de há pouco, franzina
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina. "

JOÃO CABRAL DE MELLO NETO